terça-feira, 30 de novembro de 2010

Já passei por aqui (10)






Aldeia da Luz (nova), nas margens do Alqueva

“VER OS TOUROS DE PALANQUE”


Todos os dias e a quase todas as horas, principalmente na comunicação social, há gente a falar de e sobre assuntos que lhe são estranhos. Falam de desemprego, mas nunca estiveram desempregados. Opinam sobre gestão de empresas, mas nunca estiveram em tais cargos. Dizem ter de se fazer isto e aquilo, mas quando estiveram em posição de o fazer ainda se portaram pior. Constatam pobreza e miséria, mas não lhes faltam os milhares ou dezenas de milhares de euros ao fim do mês.

Ficam à fresca, a partir de um lugar seguro quando os conflitos aquecem. Protegem-se, vêem e comentam do andar de cima, a água da tempestade que entra pela porta do rés-de-chão. Com gente desta estamos tramados. A situação social só se alterará quando a maioria decisiva resolver descer à arena e pegar o “touro” pelos cornos.

Faz, esta terça-feira, 75 anos sobre a morte do escritor português Fernando Pessoa.


SABER NÃO TER ILUSÕES É ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIO PARA SE PODER TER SONHOS.
Fernando Pessoa

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Já passei por aqui (9)




Castelo Rodrigo

domingo, 28 de novembro de 2010

PARABÉNS!!!

Já passei por aqui (8)




Barrancos

Poema de Sophia














Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Já passei por aqui (7)





Idanha-a-Velha

Todos os dias aparecem mais motivos para dizer:


A SENHORA MINISTRA NÃO É BOA. ILUDE ALGUNS PORQUE É VAGAROSA A FAZER MALDADES.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

As minhas... (do Vitor Dias)... lições do dia






(não por acaso, é esta a foto de topo deste «post»: piquete no Call Center da PT no Areeiro)

Diga o que disser o outro lado da barricada, a verdade dura e forte como punhos é que, num país em que a opinião pública tem estado a sujeita a um brutal rolo compressor favorável à resignação, à apatia, à proclamação da alegada falta de alternativa e ao «é mau mas tem de ser» e em que 30% dos trabalhadores têm tragicamente vínculos laborais precários, a greve geral de hoje constitui um grande, marcante e assinalável êxito e uma poderosa e inarredável manifestação de protesto popular e de exigência de uma outra política e de um outro rumo para o país.

Desde logo, a greve geral, com a expressão o impacto que teve, representa uma fortíssima e inapagável pressão social contra a aprovação daqui a dias de um Orçamento íniquo que não só consolida e agrava toda uma infame política de fazer pagar aos trabalhadores e às camadas sociais menos protegidas o preço exclusivo de uma crise que não provocaram como, no plano nacional, traduz a aplicação de uma orientação para o desastre, na exacta medida em que agravará todos os problemas e causas de fundo que, em parte decisiva, conduziram e explicam a situação em que o país está.

É isto que importa sublinhar a traço forte, fora de cálculos de probabilidades sobre as profundíssimas rectificações no Orçamento que são social e nacionalmente indispensável. Podem as forças políticas aliadas, cúmplices e siamesas na defesa deste Orçamento e na defesa dos ilegítimos e egoistas interesses de classe que representam, não quererem ouvir esta voz que hoje ressoou límpida, clara e convicta por todo o país. Mas se, de forma cega e autista o fizerem, estejam certos que essa voz, feita de muitas centenas de milhares de vontades e consciências, o vai fixar na memória e com eles ajustar contas na primeira oportunidade.

Para além disso, decisivo e fundamental é compreender que o processo social de luta em que a greve geral se insere tem um significado e um horizonte que ultrapassam em muito a questão do Orçamento e que hoje se afirmou no país uma enorme disposição que vem para ficar e para ser o impulso forte e combativo para todas as pequenas e grandes lutas que os próximos tempos continuarão a reclamar imperativamente, sector a sector, empresa a empresa, medida a medida, luta a luta, batalha a batalha, e nacionalmente.

Para já não falar da vergonhosa «técnica» do governo de, em vez de contar percentagens de adesões, contar percentagens de serviços públicos abertos (podem estar abertos e terem lá dentro só 5 de 30 trabalhadores!), é claro que já ai está e estará nos próximos dias um dos mais bafientos truques argumentativos que consiste em atribuir um enorme significado menosprezador à falsa e viciosa ideia de que «praticamente a greve geral só teve expressão significativa no sector público e fraquíssima adesão no sector privado». Sobre este truque apenas duas notas: a primeira é para perguntar se os que tal coisa papagueiam na comunicação social nos oferecem também na comunicação social o espaço e tempo para apresentar a lista de todas as empresas privadas em que a adesão à greve geral foi muito significativa (foi isto que fiz em curto em resposta a Miguel Sousa Tavares na última greve geral); a segunda é para, mesmo admitindo que globalmente haja diferenciais entre adesão no sector público e privado, lhes perguntar se querem ter a caridade de nos explicar a bondade do fenómeno ou, melhor dizendo, se têm o despudor de nos dizer que assim é porque nas empresas privadas há mais liberdade e menos constrangimentos ou de nos confessar que a explicação está precisamente no contrário.

De uma importância muito maior do que se poderá supôr é que a greve geral de hoje, num país com um panorama mediático que tende a apresentar apenas como grandes protagonistas da vida nacional governantes, empresários e economistas do «pensamento único», veio recolocar no seu devido lugar central na vida do país e da democracia o trabalho e os trabalhadores, a sua consciência, vontade e direitos e o seu atributo de criadores essenciais da riqueza nacional e de construtores insubstituíveis de um futuro melhor.

E, por fim mas bem podia ter sido no príncipio, é a hora de gritar bem alto que quer os homens e mulheres que, num tempo de tanta pressão para o egoismo e o ensimesmamento individual, generosa e sacrificadamente prepararam e organizaram a greve geral quer as mulheres e os homens que a ela aderiram ou a apoiaram ou lhe prestaram solidariedade de pensamento são os nossos verdadeiros heróis da verticalidade, da dignidade, da luz e da esperança nos ásperos, sombrios e desafiantes tempos que vivemos.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Até quinta!

Já passei por aqui (6)


Moinho de Maré, em Corroios

Sérgio Ribeiro põe os pontos nos iiis


Dia de vésperas. De muita expectativa. E trabalho! Tanta coisa a dizer!
Ontem, já a entrar por hoje, os Prós e Contras foram diferentes.
Apesar da mesma condução de sempre, por vezes desastrosa, da "moderadora", disseram-se coisas muito interessantes. Tocaram-se nalgumas feridas!
Porque não se trata do programa televisivo, mas do final desta série sobre a Greve Geral, vou deixar alguns apontamentos suscitados pelo que ouvi e que julgo adequados às intenções destes "posts".


•Falhanço total da economia liberal, com "emagrecimento" do papel do Estado. Esta verificação, vinda do "lado direito" do painel, vai contra a corrente ideológica dominante. Porque a análise da evolução do funcionamento da economia, desde que com um mínimo de seriedade, a tal obriga.
•No arrolamento das causas epidérmicas da actual situação, primeiro, o não reinvestimento na economia dos lucros financeiros; segundo, a diminuição da parcela de remuneração ao "factor" trabalho; terceiro, a precarização do emprego.
Daqui resulta uma situação social insuportável - e as perspectivas de vir a ser pior se não se puser um travão ao funcionamento da economia! - e a necessidade de uma resposta muito clara. De uma Greve Geral.

Tocou-se nas feridas.

Mas as feridas, como a febre, têm causas. Profundas.

Não se trata de atacar os efeitos, de ajudar à cicatrização, de fazer baixar a temperatura. Há que ir às causas profundas.

Por isso, uma Greve Geral que é, também - ou sobretudo -, tomada de posição perante o funcionamento da economia e de consciência. Tomada de consciência que é (digo eu) de classe.

No actual estado das coisas, é necessária esta Greve Geral a ser feita também pelos que não são, teórica ou objectivamente, da classe, mas que estão a sofrer as consequências, económicas e sociais, do funcionamento do sistema que os alicia E rejeita. E que, "entre duas cadeiras", na da ruptura e efectiva mudança se terão de sentar se recusarem a alternativa de, por tanto o desejarem, insistirem na procura de subir para a outra cadeira, a do aparente poder (do dinheiro ou do que for), e apenas os esperar, em prazo médio ou curto, estatelarem-se no duro chão das falências e das servidões aos grandes que cada vez menos e maiores serão.

Repegando nas pertinentemente apontadas como três causas próximas (ou epidérmicas, como lhes chamei), falta dar o nome às causas profundas: capitalismo e a(s) sua(s) crise(s)!

1.a ausência de reinvestimento (quer pelos privados, quer pelo Estado) é o capitalismo às voltas atrás do próprio rabo, incapaz de encontrar saídas, à maneira de injectar mais droga na veia;
2.a dimuição da parcela remuneratória para o trabalho na repartição dos rendimentos é tentativa do capitalismo de recuperar taxas de mais-valia (seu verdadeiro alimento), através da intensificação da exploração para compensar a baixa tendencial das taxas de lucro;
3.a precarização do emprego é o esforço de mercadorização da força de trabalho, procurando anular tudo o que sejam conquistas sociais, mormente no que respeita a horário de trabalho e tempo livre, substituído por desemprego como "mercadoria em stock" (o estratégico "exército de reserva laboral").
Mas... basta, por agora, de reflexão de base teórica, tão apelativa e indispensável. Vamos aos piquetes de greve! De acordo com a legislação que resulta da relação de forças ao nível do Estado em que vivemos.

Publicada por Sérgio Ribeiro (blog ANÓNIMO SEC XXI)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Já passei por aqui (5)
















2ª. Circular Lx (c/camião vizinho)

Até já brincam com o CHMT

Se o ridículo matasse...

Hospital patrocina Filipe La Féria

São João pagou cem mil euros à produtora para cinco musicais, destinados a angariar fundos para nova ala

O Hospital de São João, no Porto, patrocinou cinco espectáculos infantis de Filipe La Féria, no valor de cem mil euros, com o objectivo de angariar fundos para o projecto Joãozinho, destinado a construir uma nova ala pediátrica. Mas a acção inédita de um hospital público "não teve o retorno esperado", garante fonte do hospital que acompanhou o processo. Por isso, o contrato estendeu-se agora ao Sítio do Pica Pau Amarelo, musical que estreou ontem no Politeama, em Lisboa. O acordo está a gerar indignação.

O contrato "milionário", está a "escandalizar" o Bloco de Esquerda que já anunciou que vai questionar o Governo sobre o assunto. "Acho inconcebível. Isto é ir buscar dinheiro às farmacêuticas, que tanto se têm queixado das suas dificuldades financeiras e criticado o Parlamento por diminuir os preços dos medicamentos, para pagar espectáculos do La Féria. E isto faz-se a troco de quê?", questiona João Semedo. O deputado diz mesmo que, em tempos de crise, "é escandaloso que se gaste dinheiro com este espectáculo que só serve para encher páginas da imprensa cor-de-rosa".

Fontes geralmente bem informadas referem que tomando como exemplo o “hospital exemplo” da senhora ministra outras iniciativas se irão suceder. Assim o Centro Hospitalar do Médio Tejo passará a patrocinar a Feira da Golegã estando prevista uma largada de touros nos jardins do Hospital de Torres Novas. Ainda no S. João consta que para 2011 o programa Joãozinho prevê um desfile de moda na área circundante da urgência bem como uma parceria com o Casino de Espinho para a produção de um musical cuja receita reverterá para o referido projecto. Finalmente será montado um quiosque nas zonas de ambulatório para venda de “raspadinhas” com a imagem do “Joãozinho” a que se juntará uma quermesse patrocinada por uma companhia farmacêutica de renome internacional.

A isto se chama inovar. Fica aberto o caminho para o MS trocar o projecto das farmácias nos hospitais e lançar a abertura de casinos junto às urgências. Ficaria assim resolvido o problema da dívida e do défice e quiçá da sustentabilidade nos próximos vinte anos.
(in blog SAÚDE SA)

sábado, 20 de novembro de 2010

JÁ AQUI ESTIVE (4)



A Nau dos Corvos no Cabo Carvoeiro/Peniche

Poema de Torga




Inocência




Vou aqui como um anjo, e carregado
De crimes!
Com asas de poeta voa-se no céu...
De tudo me redimes,
Penitência
De ser artista!
Nada sei,
Nada valho,
Nada faço,
E abre-se em mim a força deste abraço
Que abarca o mundo!

Tudo amo, admiro e compreendo.
Sou como um sol fecundo
Que adoça e doira, tendo
Calor apenas.
Puro,
Divino
E humano como os outros meus irmãos,
Caminho nesta ingénua confiança
De criança
Que faz milagres a bater as mãos.

Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório'

JÁ PASSEI POR AQUI (3)


Praça central de Porto Covo

Frases que valem



A VIDA É BREVE, MAS CABE NELA MUITO MAIS DO QUE SOMOS CAPAZES DE VIVER.

JÁ PASSEI POR AQUI (2)


Passagem inferior da A25, entre Castelo Mendo e Castelo Bom

Boys, boys, boys


in JN
O Estado português, é sabido, tem as costas largas. Demasiado largas. Tão largas que há quem trepe por ele acima, se empoleire nos seus ombros e, lá do alto, grite, a plenos pulmões: "Também eu já bebi do seu cálice, também eu já fui bafejado pela sorte!"

O cálice é o Orçamento do Estado, a sorte é ser amigo de alguém que mexe uns cordelinhos no partido que está no poder. Ou, como normalmente são designados, os "boys" que se acotovelam nas trincheiras desta Função Pública que oscila de regime para regime, gente esperta o suficiente para não fazer muitas perguntas inteligentes.

Veja-se o caso do jovem dirigente socialista que, sem currículo profissional ou canudo académico, conseguiu a proeza de ser, simultaneamente, assessor político da Câmara de Lisboa (lá está, a confiança) e receber subsídios do Instituto do Emprego para criar uma empresa que, entretanto, está desactivada.

Tudo somado, recebeu qualquer coisa como 41 mil euros indevidos. Tanto quanto ganhariam 86 trabalhadores que aufiram o salário mínimo. Mas o partido achará que o jovem "boy" vale bem por 86.

Veja-se, ainda, o exemplo dos arábicos salários de que beneficia(ra)m os elementos do Conselho de Administração da Fundação Cidade de Guimarães, entidade que gere a Capital Europeia da Cultura, e que ontem levaram uma castanhada. Haja justiça, pensará o incauto leitor. Mais ou menos.

Isto porque o corte de 30% decretado pela autarquia, parecendo salomónico, não corrige o erro e a falta de pudor. Mesmo com o acerto de contas, o vencimento de Cristina Azevedo, presidente do Conselho de Administração, baixa de 14.300 para 10 mil euros mensais (mais do que, por exemplo, ganha o presidente da República e o primeiro-ministro).

A mais extraordinária lição a tirar desta história é que foi António Magalhães, autarca local, a decidir o montante a pagar aos representantes daquele órgão, num acto de desprezo pelos dinheiros públicos. Se um deputado do PCP chamado Agostinho Lopes não tivesse reparado, calava-se tudo bem caladinho.

Não custará muito projectar, a partir destes dois casos, milhares de outros. Um exército silencioso que se encosta ao poder, que priva com ele, que desfruta das suas mordomias, que tem do Estado uma visão maniqueísta ("eu sou o Estado, por isso, ele tem de me servir"), gente que não abunda nos discursos dos políticos, porque é sempre mais fácil atacar os desempregados e os beneficiários de prestações sociais. Esses sim, são as sanguessugas dos nossos impostos. Os outros não. Os outros são "atarefados" funcionários públicos. Com amigos nos sítios certos.

JÁ PASSEI POR AQUI (1)


Acesso sul à Ponte 25 Abril

Profissão: "boy"

(in JN)
É uma história de proveito e exemplo e todos os pais a deveriam ler à noite aos filhos para que eles possam aprender que, ao contrário do que professores antiquados ainda ensinam na escola, não é com estudo e trabalho, ou com mérito, que se vai longe na vida.
Pedro era um petiz de palmo e meio e frequentava o ensino secundário. Vivia com o pai, funcionário do PS, numa casa da Câmara de Lisboa pagando 48 euros de renda. Cedo percebeu que, se tirasse um curso superior, decerto acabaria como caixa de supermercado e, miúdo esperto, rapidamente deixou as aulas e se tornou, como o pai, funcionário partidário. Estava lançado na vida. Algum tempo depois rescindiu o contrato e, assim desempregado "por motivo de reestruturação, viabilização ou recuperação da empresa [o PS], quer por a empresa se encontrar em situação económica difícil", obteve do IEFP 40 mil euros de subsídios para a criação da sua própria empresa - que nem precisou de ter actividade - e do seu próprio posto de trabalho. Meteu os subsídios ao bolso e arranjou "o seu próprio posto de trabalho" na Câmara de Lisboa a ganhar 3950 euros por mês como assessor político (o que quer que isso seja) de uma vereadora do PS.
O "Público", que traz a história do jovem Pedro, hoje com 26 anos e um grande futuro político pela frente, sugere que ela é ilegal e imoral. Deixará de ser quando quem faz as leis fizer também a moral. Não tardará muito.

Desde o início que estou nesta causa

(in Setúbal na Rede)

Saúde
por Joaquim Judas (Médico)



O Hospital do Seixal É Inadiável

Há pouco mais de um ano foi assinado entre a Câmara Municipal do Seixal e o Ministério da Saúde o Protocolo que projectou para o final de 2012 o termo da construção do Hospital do Seixal.

Na altura Bruxelas apelava à promoção do investimento público, designadamente em equipamentos de educação e saúde, como instrumento de contenção da crise e de relançamento económico. Agora, entregues os recursos públicos à insaciável ganância de lucro do grande capital, Bruxelas apela à penhora dos Estados e institui a selva como o paraíso das suas políticas sociais. Agora o Protocolo é um obstáculo para todos aqueles que, sem assumirem a defesa dos seus privilégios, se opõem a que o Hospital do Seixal se torne realidade.

Fazer cumprir o Protocolo assinado para a construção do Hospital do Seixal é um dever de todos os cidadãos da Região de Setúbal. Foi lutando que se conseguiu que ele fosse elaborado e assinado, é lutando que se conseguirá que ele seja cumprido.

O silêncio do Governo do PS em relação ao compromisso que assumiu, é motivo de justa e fundamentada preocupação por parte das populações das Comissões de Utentes e do Poder Local. Ao referir os Hospitais a construir, o Primeiro-ministro tem esquecido sistematicamente o Hospital do Seixal; o Conselho de Administração do Hospital Garcia d’Orta, que veio a ser substituído no final do primeiro semestre deste ano, e que deveria ter tido como principal missão lançar a construção do novo Hospital do Seixal, arrastou o processo pelas gavetas; o Conselho de Administração que se lhe seguiu, desrespeitando o Protocolo, adiou o Hospital para 2013; o Presidente do Conselho de Administração da Administração de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, entidade administrativa responsável pelo assunto, manifesta negligência no acompanhamento do processo; a Ministra da Saúde, que se comprometeu a fazer uma declaração pública reafirmando o compromisso do Governo com o cumprimento do Protocolo, está a cumprir voto de silêncio.

O Hospital do Seixal, pelo perfil que lhe é definido no Protocolo, é uma peça central no processo de humanização e qualificação da prestação do Serviço Nacional de Saúde, quer pelo tipo de cuidados que visa prestar, quer pela articulação que facilita e desenvolve entre os diversos níveis e tipos de cuidados de saúde na Região. O próprio processo de construção e instalação do Hospital do Seixal como unidade do serviço público de saúde, obrigará, desde logo, a um novo modo de abordar as gravíssimas insuficiências e entorses que afectam o SNS na nossa Região, permitindo-lhe a adopção de soluções sustentáveis nas suas diversas dimensões como garante do direito à saúde.

O Hospital do Seixal não interessa aos que se habituaram a viver parasitando o SNS, mas interessa aos trabalhadores e às populações. Interessa aos profissionais de saúde que exigem condições de trabalho dignas. Interessa ao país, onde o que se produz e a qualidade do que se produz está na razão directa do estado de saúde e bem-estar dos seus habitantes.

O Hospital do Seixal não é um problema para as finanças públicas, mas sim uma oportunidade para se demonstrar talento e visão na sua correcta e justa administração.

O Hospital do Seixal é inadiável, tanto por aquilo que já devia ter sido feito como, sobretudo, por tudo aquilo que o futuro nos impõe que se faça.

O Hospital do Seixal é não só inadiável como inevitável.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Na próxima quarta-feira, há muita maneira de protestar


Na próxima quarta-feira, dia 24 de Novembro, toda a população portuguesa está convidada a participar numa jornada nacional de protesto, que tem como ponto alto a realização de uma Greve Geral, convocada pela CGTP e UGT, por dezenas de sindicatos independentes e muitas organizações sociais.

Razões para protestar não faltam aos utentes dos serviços públicos: serviços de saúde e outros já encerrados ou em vias disso; medicamentos mais caros; taxas moderadoras a aumentar; prestações sociais e salários que deixaram de existir ou foram parcialmente cortados; transportes e energias com aumento prometido para o início do próximo ano…

Esta é uma oportunidade para demonstrar que estamos contra as injustiças e queremos outras políticas, também nos serviços públicos.

No dia 24, para além de não trabalhar, há muitas maneiras de fazer greve e uma das formas como se pode contribuir para que o protesto seja efectivo e traduzido em luta social, é a de não contribuir para consumos que possam levar a dizer que… afinal foi um dia normal!


NÃO UTILIZE OS SERVIÇOS PÚBLICOS!


Só em caso de urgência vá às unidades de saúde (hospitais, centros de saúde, farmácias).






Evite a utilização do telefone e telemóvel. Não ligue a internet.






Imagine que a televisão e outros electrodomésticos avariaram.


Faça as compras de véspera e beba o seu café em casa.








Não gaste combustível. Não utilize nem os transportes públicos, nem os veículos próprios.



quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Um protesto, citando poema de Armindo Rodrigues

"A Câmara Municipal do Porto, com a cobertura da Polícia Municipal, está a atacar os Sindicatos e a roubar propaganda da Greve Geral."

IDIOTAS, PALHAÇOS E BANDIDOS...


Idiotas, palhaços e bandidos,
enfatuados, ocos, ignorantes,
do capital humildes servidores,
ante os trabalhadores majestosos,
melífluos, devotos, afectados,
hipócritas, sem escrúpulos, grosseiros,
no apetite à solta insaciáveis,
na total desvergonha sem remédio,
agiotas vorazes para os pobres,
para os ricos mãos rotas sem medida,
impávidos na asneira triunfal,
relapsos no logro e na mentira,
useiros e vezeiros na traição,
são os que nos governam e eu desprezo.


Armindo Rodrigues

terça-feira, 16 de novembro de 2010

domingo, 14 de novembro de 2010

Aos trabalhadores impõe-se, aos banqueiros suplica-se.

NÃO SEI SE HEI-DE RIR, OU CHORAR...









“Um grupo de deputados do PS pretende que os bancos autoproponham um aumento da taxa efectiva de IRC no sector bancário para “colaborarem no esforço colectivo de redução do défice”. Este aumento poderia ser temporário e seria uma espécie de agradecimento activo pelo apoio do Governo à banca nos últimos anos.”(Ler notícia completa no Público de 14.11.2010).

Ò senhor banqueiro, se não se importa, se não for muito inconveniente e se quiser (só se quiser!) dê lá uma esmolinha ao Estado. O que quiser e só este ano. Veja lá isso, por favor.

Protesto, luto e reflexão

O DIA 24 DE NOVEMBRO, CONTA COMIGO!

"... Fica-se atónito, quando se pensa, por exemplo, na desgovernação de projectos como o TGV, o aeroporto, auto-estradas, pagamento nas Scut. E as promessas? Ainda há meses, havia dinheiro para mais auto-estradas, TGV, novo aeroporto. E não haveria aumento de impostos. Estava tudo garantido por anos. De repente, cortes sem fim, um verdadeiro tsunami de impostos, que, para cúmulo, atinge sobretudo as camadas mais pobres. Será legítimo mentir em política ou ser incompetente? Mas que fique claro: as responsabilidades não são só das últimas legislaturas.

Anuncia-se uma greve geral. É preciso dar um sinal forte a todos, traduzido nestas palavras: protesto, luto, reflexão. Protesto contra a irresponsabilidade, mentira e injustiça. Luto, porque o essencial das decisões já vem de fora - Bruxelas, Berlim, FMI. Reflexão: para onde queremos ir?..."

por ANSELMO BORGES (in DN 14.11.2010)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Palavras que fazem todo o sentido nos dias que correm
















A injustiça avança hoje a passo firme.
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
Nenhuma voz além da dos que mandam.
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são.
Quem ainda vive nunca diga: nunca!
O que é certo não está certo
Assim, como está, não ficará.
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados.
Quem pois ousa dizer: nunca?
Se a opressão permanece a quem se deve ? A nós.
De que depende que ela acabe? Também de nós.
O que é esmagado, que se levante!
O que está perdido, lute!
Quem conhece a situação, por que ficará parado?
Porque os vencidos de hoje serão os vencedores de amanhã
E nunca será: ainda hoje.

Bertold Brecht

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

No associativismo era assim... em 1931







Foto recente de festa
numa taberna,
algures em Portugal



Há dias estive na sala/museu da CPCCRD (Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto), na Rua da Palma, em Lisboa. A reunião tinha a ver com utentes dos serviços públicos. Tem tudo a ver uma coisa com outra, ou não fosse o Movimento Associativo Popular dos maiores prestadores de serviços públicos!!!

Enquanto a conversa ia enrolando, dava umas espreitadelas para as montras do museu. E descobri esta pérola:

no Jornal da Tuna Recreativa A JUVENTUDE CHELENSE (colectividade que ainda está activa), datado de 1931, a toda a largura da primeira página, a seguinte frase

"A PORTA DA TABERNA CONDUZ AO HOSPITAL E À PRISÃO. TENS A TUA COLECTIVIDADE!... FREQUENTA-A, POIS."
Com umas adaptações aos tempos presentes, ainda faz todo o sentido.

Em honra da tertúlia poética do Púcaros (no Porto)

CÂNTIGO NEGRO
de José Régio




















"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.