domingo, 27 de novembro de 2016

Um poema por semana (48)

AS VEZES

Às vezes eu queria ser extravagante
  para dizer eu te amo loucamente.
  Às vezes eu queria ser bobo
  a gritar: Eu amo-te tanto!

Às vezes eu queria ser uma criança
  para lamentar enrolado em teu ventre.

Às vezes eu queria estar morto
  sentir,
  sob a terra molhada dos meus sucos,
  ver crescer uma flor
  quebrar o meu peito,
  uma flor e dizer:
  Esta flor para ti.


(Nicolás Guillén, em Havana)




 

Não são precisas mais palavras!


sábado, 19 de novembro de 2016

Um poema por semana (47)

 O CHORO DE ÁFRICA
 
O choro durante séculos
nos seus olhos traidores pela servidão dos homens
no desejo alimentado entre ambições de lufadas românticas
nos batuques choro de África
nos sorrisos choro de África
nos sarcasmos no trabalho choro de África
 
Sempre o choro mesmo na vossa alegria imortal
meu irmão Nguxi e amigo Mussunda
no círculo das violências
mesmo na magia poderosa da terra
e da vida jorrante das fontes e de toda a parte e de todas as almas
e das hemorragias dos ritmos das feridas de África
 
e mesmo na morte do sangue ao contato com o chão
mesmo no florir aromatizado da floresta
mesmo na folha
no fruto
na agilidade da zebra
na secura do deserto
na harmonia das correntes ou no sossego dos lagos
mesmo na beleza do trabalho construtivo dos homens
 
o choro de séculos
inventado na servidão
em historias de dramas negros almas brancas preguiças
e espíritos infantis de África
as mentiras choros verdadeiros nas suas bocas
 
o choro de séculos
onde a verdade violentada se estiola no circulo de ferro
da desonesta forca
sacrificadora dos corpos cadaverizados
inimiga da vida
 
fechada em estreitos cérebros de maquinas de contar
na violência
na violência
na violência
 
O choro de África e' um sintoma
 
Nos temos em nossas mãos outras vidas e alegrias
desmentidas nos lamentos falsos de suas bocas - por nós!
E amor
e os olhos secos.
 
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Gageiro (3)


Todos os dias pela manhã, à boleia do neto António


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Gageiro (2)


Um poema por semana (46)

Travessia da infância

Quietos fazemos as grandes viagens
só a alma convive com as paragens
estranhas

lembro-me de uma janela
na Travessa da Infância
onde seguindo o rumor dos autocarros
olhei pela primeira vez
o mundo

não sei se poderás adivinhar
a secreta glória que senti
por esses dias

só mais tarde descobri que
o último apeadeiro de todos
os autocarros
era ainda antes
do mundo

mas isso foi depois
muito depois
repito



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Acham-se os maiores... mas são TIGRES DE PAPEL