terça-feira, 8 de março de 2011

TU E A POLÍTICA

Tu e a política
6 de Março de 2011 por joaovalenteaguiar

Tu podes não querer saber da política, mas, lembra-te, a política quer saber de ti!

Não adianta fechares-te em casa e ligares a televisão. Muito menos afirmares que és absolutamente dono do teu nariz e achares que tu é que decides tudo na tua vida.Quer queiras ou não queiras, os banqueiros querem as tuas poupanças, os patrões querem baixar o teu salário, o governo quer ajudar os patrões e banqueiros a conseguirem o que eles querem. E o que todos eles querem, não é o que tu queres. Tu queres saúde, eles dão-te um ambiente envenenado e meses de espera para uma consulta no hospital. Queres educação, eles obrigam-te a pagar a escola do teu filho. Queres um emprego, eles obrigam-te a pedinchar de porta em porta. Queres um aumento para teres mais umas coroas, eles obrigam-te a trabalhar mais horas. Dizem-te eles “sê flexível”. E tu, flexivelmente, flexibilizas a cabeça na direcção do chão para que tornes o teu corpo e a tua mente ainda mais flexíveis!

Quer queiras ou não queiras, a televisão quer a tua mente, os padres a tua fé, a direita o teu voto. Tudo isto para que tudo fique na mesma: tu a não quereres saberes da política, eles, como de costume, a não quererem saber de ti e dos teus!

Tu não queres saber da política, mas quando num certo dia à tarde vês uma manifestação de trabalhadores, lá emites a tua opinião – quer queiras ou não queiras – política: “vão trabalhar malandros!”. Inocentemente, dizes exactamente o que a televisão respinga a toda hora: “só faz greve e só se manifesta quem é malandro”. E assim, inconscientemente, acabas por tomar como encíclica de vida o mote salazarento ”a minha política é o trabalho”. Política mais política não pode haver meu caro amigo! Entretanto, os ditos “malandros” dos trabalhadores continuam a desfilar e a defender uma política contra a política que te diz para não ligares à política!

Eles, os patrões, os banqueiros, os donos das grandes empresas, o governo, as televisões, os padres, a direita, vão dizer-te sempre, mas sempre, de forma politicamente correcta, que tu não és politicamente diferente deles. Não dizem eles que a lei é igual para todos? Portanto, dizem-te eles: “nada de pensares que uns são mais iguais do que outros. Não vivemos todos em democracia com os mesmos direitos e deveres?”. Dizem-te eles ainda, que só ali andam porque querem o teu bem! Repara, eles até te dizem que fazem um sacrifício danado em dedicarem-se à política para que tu não precises de te chatear com a política!Tudo isto para que tudo fique na mesma: tu a trabalhar, eles a acumular fortunas! Tu a não pensar, eles a dominar, a mentir e a manipular as consciências! Tu a consumir, eles a lucrar! Tu a seres despedido, eles a contar mais uns milhões nos bolsos!

Tu podes nunca querer saber da política, mas, lembra-te, a política quer sempre saber de ti!

Este texto, publicado hoje nos 90 anos do PCP (Parabéns!), deve muito à inspiração do grande poeta alemão Bertolt Brecht de quem deixo uma reflexão da sua autoria para os dias que correm. Aliás, como poderão verificar, o que o Brecht diz abaixo constitui o grande desafio da nossa contemporaneidade.

Mas a questão é: o nosso desemprego não será solucionado enquanto os senhores não ficarem desempregados!

Bertolt Brecht

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